A Visão de Gordon Clark sobre Romanos 1:20
Douglas Douma
Talvez o versículo mais comumente referenciado em apoio ao argumento cosmológico para a existência de Deus seja Romanos 1:20:
“Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso, indesculpáveis.” [ARA]
Já que, no entanto, Gordon Clark rejeitou o argumento cosmológico, pode ser de algum valor saber como ele entendeu Romanos 1:20. Felizmente, ele escreveu sobre essa questão em muitos lugares.
Que Clark não via Romanos 1:20 como apoiando o argumento cosmológico é evidente em lugares como seu artigo sobre “The Existence of God” [“A Existência de Deus”] em Encyclopedia of Christianity:
“Apesar da afirmação católica romana de que o apóstolo Paulo colocou o seu selo de aprovação em Aristóteles e Tomás de Aquino em Romanos 1:19–20, é claro que a Bíblia não oferece nenhum argumento para provar a existência de Deus. Os céus realmente proclamam a glória de Deus;¹ mas um cientista moderno que não tivesse nenhuma convicção prévia de Deus poderia ver ali apenas uma demonstração de energia nuclear.”
Ele repete praticamente a mesma coisa em God’s Hammer, pp. 87–88:
“Tomás de Aquino e a Igreja Católica Romana sustentam, não apenas que Deus pode ser conhecido na natureza, mas que a existência de Deus pode ser irrefutavelmente demonstrada, sem qualquer equipamento a priori, a partir dos dados da percepção sensorial. Para provar essa afirmação, Tomás, seguindo a liderança de Aristóteles, elaborou um sistema de filosofia incrivelmente intrincado. Essa tremenda conquista merece um exame profissional e meticuloso. […] Em outra obra (Thales to Dewey, pp. 274–78),² tentei mostrar que a análise técnica pode indicar vários pontos (por exemplo, os conceitos de potencialidade e movimento, o argumento circular sobre regressão infinita, a teoria da analogia) nos quais a cadeia de silogismos de Tomás se rompe. Certamente é extremo afirmar, como os tomistas fazem, que o apóstolo Paulo em Romanos 1:20 garante a validade do argumento completo.”
Na mesma obra, p. 92, Clark observa:
“Embora obscuro e restrito, esse conhecimento natural de Deus não deve ser negado. Romanos 1:20 pode não garantir a validade das provas teístas, mas afirma claramente algum conhecimento de Deus derivado das ‘coisas que foram criadas’.”
Finalmente, num artigo inédito intitulado “Nooumena Kathoratai”, ele é mais explícito sobre o que é esse “algum conhecimento”:
“Pode-se notar que ninguém pode reconhecer uma flor como obra de Deus, a menos que tenha um conhecimento prévio de Deus. Como disse Calvino, o conhecimento de Deus é o primeiro conhecimento que uma pessoa possui. É inato; não derivado da experiência.”
Poderíamos resumir a visão de Clark sobre Romanos 1:20 dizendo que não é que conhecemos a Deus porque vemos o Seu poder no universo, mas porque já conhecemos Deus inatamente, entendemos que o poder no universo é Dele.
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¹ Nota do Tradutor: Sobre o Salmo 19, Gordon H. Clark comenta: “Novamente, a visão hebraico-cristã de que “os céus proclamam a glória de Deus” não significa, em minha opinião, que a existência de Deus pode ser formalmente deduzida de um exame empírico do universo. Se por algum outro motivo cremos no Deus de Abraão, Isaque e Jacó, podemos ver que os céus declaram sua glória; mas isso não quer dizer que uma pessoa que não cresse em Deus poderia demonstrar sua existência a partir da natureza. Mais referências a esse ponto serão feitas um pouco mais tarde” (Special Divine Revelation as Rational, The Trinity Foundation, novembro/dezembro de 2016.
² Nota do Tradutor: Publicado pela editora Cultura Cristã com o título De Tales a Dewey, 1ª edição (2019), 480 pp.
DOUMA, Douglas. “Gordon Clark’s view of Romans 1:20”; A Place for Thoughts. Disponível em: https://www.douglasdouma.com/2018/05/10/gordon-clarks-view-of-romans-120/ Acesso em 29 de junho de 2024.