Deus é “Ex-lex”

Gordon H. Clark

Gordon H. Clark
3 min readJul 23, 2023

Deus não é responsável nem pecaminoso, embora seja a única causa suprema de tudo. Ele não é pecaminoso porque, em primeiro lugar, tudo quanto Deus faz é justo e reto. É justo e reto simplesmente em virtude do fato de ser ele quem faz. Justiça ou retidão não é um padrão externo a Deus, ao qual ele está obrigado a se submeter. Retidão é aquilo que Deus faz. Uma vez que Deus causou Judas a trair Jesus, esse ato causal é reto e não pecaminoso. Por definição, Deus não pode pecar. Neste ponto deve ser particularmente indicado que Deus causar um homem a pecar não é pecado. Não há lei, superior a Deus, que o proíba de decretar atos pecaminosos. O pecado pressupõe uma lei, pois o pecado é ilegalidade. Pecado é qualquer falta de conformidade com a lei de Deus, ou qualquer transgressão dessa lei. Mas Deus é “Ex-lex”.

É verdade que se um homem, um ser criado, causasse ou tentasse causar outro homem a pecar, essa tentativa seria pecaminosa. A razão é imediata. A relação de um homem com outro é totalmente diferente da relação de Deus com qualquer homem. Deus é o criador; o homem é uma criatura. E mais, a relação de um homem com a lei é igualmente diferente da relação de Deus com a lei. O que vale numa situação não vale na outra. Deus tem direitos absolutos e ilimitados sobre todas as coisas criadas. Da mesma massa ele pode fazer um vaso para honra e outro para desonra. O barro não tem direitos sobre o oleiro. Entre homens, pelo contrário, os direitos são limitados.

A ideia de que Deus está acima da lei pode ser explicada em outro particular. As leis que Deus impõe aos homens não se aplicam à natureza divina. Elas são aplicáveis somente a condições humanas. Por exemplo, Deus não pode roubar, não somente porque tudo quanto ele faz é certo, mas também porque ele é o dono de tudo: não há ninguém de quem roubar. Assim, a lei que define o pecado visa a condições humanas e não tem relevância para um Criador soberano.

Uma vez que Deus não pode pecar, por conseguinte, Deus não é responsável pelo pecado, mesmo que o decrete. Talvez seja bom, antes de concluirmos, apresentar mais algumas comprovações bíblicas de que Deus realmente decreta e causa o pecado. 2 Crônicas 18.20–22 registra: “Então, saiu um espírito, e se apresentou diante do SENHOR, e disse: Eu o enganarei. Perguntou-lhe o SENHOR: Com quê? Respondeu ele: Sairei e serei espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas: Disse o SENHOR: Tu o enganarás e ainda prevalecerás; sai e faze-o assim. Eis que o SENHOR pôs o espírito mentiroso na boca de todos estes teus profetas e o SENHOR falou o que é mau contra ti”. Essa passagem definitivamente diz que o Senhor causou os profetas a mentirem. Outras passagens semelhantes podem ser relembradas. Mas o fato de Deus não ser responsável pelo pecado que de causa é uma conclusão estreitamente ligada ao argumento precedente.

Outro aspecto das condições humanas pressupostas pelas leis que Deus impõe aos homens é que elas levam consigo um castigo que não pode ser infligido a Deus. O homem é responsável porque Deus chama-o às contas; o homem é responsável porque o poder supremo pode castigá-lo pela desobediência. Deus, pelo contrário, não pode ser responsável pela razão óbvia de que não há poder superior a ele, não ninguém pode castigá-lo; não há ninguém a quem Deus tenha de prestar conta; não há leis às quais ele possa desobedecer. O pecador, portanto, e não Deus, é que é responsável; o pecador por si só é o autor do pecado. O homem não tem livre-arbítrio, pois a salvação é puramente de graça; e Deus é soberano.

— Gordon H. Clark. Deus e o Mal: O Problema Resolvido. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2014, pp. 81–83.

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Written by Gordon H. Clark

Gordon Haddon Clark (1902–1985) foi um teólogo, filósofo e apologista pressuposicional. “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (João 17:17)

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