O Existencialismo é um Fracasso Moral

Gordon H. Clark

Gordon H. Clark
4 min readMar 3, 2025

O exemplo final da falência da filosofia secular no campo da ética é o Existencialismo. De forma especial, é um caso adequado em razão do queixume ruidoso dos existencialistas contra Aristóteles e Hegel. Eles não só se opõem a um Idealismo abstrato, no qual não cabe Hegel como ser existente individual, mas de maneira mais direta, caracterizam o aristotelismo como uma filosofia “espectadora”, que dá pouca atenção às questões vitais da existência nem toma parte nelas. Em oposição a tais abstrações sem vida, o Existencialismo valoriza em demasia a liberdade do homem e assume como um de seus deveres principais a tarefa de exortar as pessoas para que vivam com “autenticidade’’, alcancem o ser, criem a essência de si mesmas. As categorias pessoais mais bem conhecidas não são substância, quantidade, unidade, causa e coisas semelhantes, mas ansiedade, náusea, crise e terror. Essas categorias psicológicas, ou mesmo psiquiátricas, mas apesar de tudo categorias éticas, expressam sem dúvida a ideia de que os valores vitais são superiores aos valores mentais. A ação substitui a abstração.

Todavia, se tentarmos particularizar, indo além do conselho mais que genérico e obscuro para se viver com autenticidade, o fracasso do Existencialismo para prover normas de conduta ou justificar algum tipo de ação é tão gritante, em comparação com o seu oposto, que fica-se na dúvida entre atacar de forma ampla e arrasadora cada detalhe seu ou descartá-lo com poucas palavras sem lhe proporcionar mais destaque. Pouco mais do que a última opção será feito aqui: apenas uma breve indicação das fontes do fracasso.

A principal fonte de fracasso é o subjetivismo da epistemologia do Existencialismo. O Existencialismo é uma forma extremada de romantismo. O seu ideal é um Fausto em tempo de guerra. Os valores da vida são considerados superiores aos valores do pensamento. Infelizmente, ao opor a vida ao pensamento, o Existencialismo aventura-se a não ter nenhum conceito de vida, para definir o que seria pensar. O pensamento depende da relação entre um sujeito e um predicado e o Existencialismo almeja erguer-se acima dessa distinção. Isso é uma negação de todo conhecimento e verdade, e se não há conhecimento em geral é óbvio que não pode haver nenhum conhecimento particular de moralidade.

A mesma epistemologia impossível é encontrada entre os não ateístas, entre os ditos também existencialistas cristãos. Eles até podem não querer ser conhecidos como existencialistas, mas repudiam a racionalidade e a lógica da mesma maneira. De forma particular, juntamente com Friedrich Nietzsche, eles rejeitam, ou no mínimo limitam, a lei da contradição. Argumentar logicamente de uma certa distância é aceitável, mas chega-se no ponto em que a fé é obrigada a refrear a implicação, e isso tem de ser aceito, o que contradiz as primeiras asserções.

Além dessa consideração epistemológica básica, há também, mas não para surpreender, dificuldades éticas específicas. A principal delas, a que tudo abrange, é a impossibilidade de estabelecer valores ou normas de conduta. Há sem dúvida uma forte ênfase na liberdade, como se a rejeição do absolutismo conservasse de alguma maneira os valores da existência. Mas os únicos valores admitidos são aqueles criados pela escolha pessoal do indivíduo: não existe nenhuma lei mooral obrigatória a todos os homens. Todas as escolhas são permitidas, e todo mundo pode trocar seus valores pela próxima escolha. Assim, não existem bases para as escolhas e fica-se desnorteado a respeito da maneira como qualquer decisão pode ser tomada. Essa espécie de liberdade de escolha, sem quaisquer restrições, esvazia a vida de todo significado. A falta de sentido da vida humana está de acordo com a negação da natureza do homem imaginada por Sartre. Nos sistemas não tão irreconciliavelmente antagônicos a alguma forma de determinismo, as formas a priori da lógica, uns raros princípios morais inatos, ou pelo menos um desejo natural pelo prazer ou pela sobrevivência governam a vontade e as escolhas do homem. Mas quando a existência é de tal forma livre que ele cria a sua própria, não é possível haver nenhuma norma independente da vontade do indivíduo. Por isso Sartre pode nos ordenar a escolher, do modo tão insistente quanto desejar, mas não pode nos dar nenhuma ideia do que escolher. Logo, o Existencialismo é um fracasso moral.

Em razão de todas essas considerações, a conclusão agora é que a ética secular é um fracasso. Os diferentes sistemas, todos eles, falham em dois pontos nos quais o fracasso é fatal. Primeiro, não fornecem um conjunto de princípios universais e consistentes. Ou, para falar com maior clareza, não justificam uma única norma de conduta. Então, o segundo ponto, não proporcionam nenhuma orientação para a tomada concreta de decisões na vida diária. Não são de nenhum auxílio para as pessoas que se acham honestamente perplexas. Fracassando desse modo tanto de forma teórica quanto prática, o fracasso da ética secular é absoluto.

— Gordon H. Clark. Uma Introdução à Filosofia Cristã. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2013, p. 58–60.

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Written by Gordon H. Clark

Gordon Haddon Clark (1902–1985) foi um teólogo, filósofo e apologista pressuposicional. “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (João 17:17)

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