O Livre-Arbítrio NÃO Soluciona o Problema do Mal
Gordon H. Clark

Ao que parece, este é um lugar para se perguntar: O homem tem livre-arbítrio? É verdade que as suas escolhas não são determinadas por motivos, por induções ou pela determinação do seu caráter? Poderia alguém resistir à graça e ao poder de Deus e tomar uma decisão incausada? Mas essas perguntas não serão respondidas aqui, serão discutidas mais tarde. O próximo passo na discussão é um pouco diferente. Admitamos como certo que a vontade do homem é livre, que essas perguntas foram respondidas na afirmativa; ainda restaria de mostrar que o livre-arbítrio soluciona o problema do mal. Essa é, então, a indagação imediata. É a teoria do livre-arbítrio, ainda que fosse verdadeira, uma explicação satisfatória para o mal em um mundo criado por Deus? Agora serão apresentadas razões — razões irrefutáveis — para se apresentar uma resposta negativa. Ainda que os homens fossem capazes de escolher tanto o bem como o mal, ainda que o pecador pudesse com a mesma facilidade tanto escolher Cristo como rejeitá-lo, isso seria totalmente irrelevante para o problema fundamental. O livre-arbítrio foi formulado para aliviar a responsabilidade de Deus pela existência do pecado. Algo que o livre-arbítrio não faz.
Vamos imaginar um posto de salva-vidas numa praia perigosa. Na arrebentação das ondas, um rapaz está sendo arrastado para o mar pela forte contra-corrente submarina. Ele não consegue nadar e se afogará se não for socorrido. Tem de ser um socorro faz vigoroso, porque assim como fazem os pecadores se afogando, ele lutará contra quem o socorrer. Mas o salva-vidas simplesmente senta-se na cadeira alta e assiste ao seu afogamento. Talvez até grite algumas palavras de advertência dizendo-lhe para usar o livre-arbítrio. Afinal de contas, o garoto foi fazer surfe pela sua livre vontade. O salva-vidas não insiste com ele nem interfere em nada; ele meramente deixou que o rapaz entrasse no mar e permitiu que se afogasse. Será que agora o arminiano chega à conclusão de que o salva-vidas agindo assim se livra da culpa?
Essa ilustração, com suas limitações finitas, é por si só bastante prejudicial. Ela mostra que a permissão para o mal, comparada à causalidade positiva, não diminui a responsabilidade do salva-vidas. De modo semelhante, se Deus simplesmente permite que os homens sejam tragados pelo pecado das suas próprias vontades livres, assim, as objeções de Voltaire e do Professor Patterson não serão satisfeitas. É isso o que os arminianos não conseguem perceber. Ainda assim a ilustração não é totalmente justa com a situação verdadeira. Porque, diferentemente do rapaz, que existe em relativa independência do salva-vidas, o fato é que Deus fez o rapaz e também o oceano. Ora, se o salva-vidas — jamais um criador — é responsável por permitir que o rapaz se afogue, mesmo que ele tenha ido praticar surfe por sua livre vontade, será que Deus, que fez todos eles, não aparece numa luz pior? Deus poderia ter feito o rapaz um nadador melhor; ou, um oceano menos violento; ou, pelo menos, tê-lo salvado do afogamento.
Não somente livre-arbítrio e permissão são irrelevantes para o problema do mal, como também, além disso, a ideia de permissão não faz sentido inteligível. Permitir que alguém se afogue está completamente dentro do âmbito das possibilidades de um salva-vidas. Essa permissão, porém, depende do fato de a contra-corrente oceânica estar fora do controle dele. Se o salva-vidas tivesse algum dispositivo de sucção gigantesco capaz de engolir o rapaz, isso seria assassinato, não permissão. A ideia de permissão só é possível ante a existência de uma força independente, do rapaz ou do oceano. Mas não é essa a situação no caso de Deus e do universo. Nada no universo pode ser independente do Criador Todo-Poderoso, pois nele nós vivemos, nos movemos e existimos. Logo, a ideia de permissão não faz sentido quando aplicada a Deus.
— Gordon H. Clark. Deus e o Mal: O Problema Resolvido. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2014, pp. 32–35.