Os Problemas do Racionalismo

W. Gary Crampton

Gordon H. Clark
3 min readJan 4, 2024

O dr. Clark definiu o racionalismo como a “razão sem fé”. Ou seja, a razão à parte da revelação ou experiência sensorial, fornece a fonte primária, ou única, da verdade. Os sentidos não são confiáveis, e o conhecimento apriorístico (existente antes de qualquer observação ou experiência) deve ser aplicado à experiência para torná-la inteligível.

No escrituralismo, o conhecimento advém da lógica, à medida que a pessoa estuda as proposições reveladas da Escritura, entende-as e traça implicações a partir delas. No racionalismo puro, contudo, o conhecimento advém somente da razão. O pensamento humano sozinho se torna o padrão de juízo de todas as crenças. Mesmo a revelação deve ser julgada pela razão. Uma falsa suposição racionalista é a capacidade humana, à parte da revelação, de chegar ao verdadeiro conhecimento de pelo menos algumas coisas, incluindo-se Deus.

Há vários erros no sistema racionalista. Em primeiro lugar, como os racionalistas admitem, os homens podem raciocinar errado, e na verdade erram. Erros formais na lógica são apenas um exemplo. Em segundo, há a questão do ponto de partida. Onde se inicia o racionalismo puro? Platão (428–348 a.C.), René Descartes (1596–1650), Gottfried Leibniz (1646–1716) e Baruch Spinoza (1632–1677) — todos racionalistas clássicos — tinham diferentes pontos de partida. Platão aparentemente começava com as ideias eternas, Descartes com a dúvida (seu cogito ergo sum),⁴ Leibniz com o sistema de mônadas, e Spinoza, o panteísta, com Deus sive Natura.⁵ Os racionalistas parecem discordar em relação ao axioma apropriado do racionalismo.

Terceiro, como o raciocínio à parte da revelação pode determinar se o mundo é controlado por um Deus onipotente e bom, que nos revelou que dois mais dois são quatro, ou por um demônio onipotente que tem durante todo o tempo nos enganado para crermos que dois mais dois são quatro quando na realidade são cinco? Pior ainda, como Friedrich Nietzsche (1844–1900) argumentou, talvez nossas categorias lógicas e faculdades de pensamento sejam nada mais que necessidades fisiológicas determinadas por forças evolucionárias. O propósito delas não é a descoberta da verdade, mas a sobrevivência do organismo.

Quarto, o racionalismo parece cometer a falácia da afirmação do consequente. Alguns argumentos racionalistas procedem da seguinte forma: caso se comece com a pressuposição P, pode-se justificar a alegação de que se tem conhecimento. Ora, é certo que se tem conhecimento; portanto, a pressuposição P é verdadeira. Essa forma de argumento é a falácia elementar de afirmar o consequente. Um exemplo banal seria: Se a bateria estiver descarregada, o carro não funcionará. O carro, de fato, não funciona; portanto, é verdade que a bateria está descarregada.

Por último, no racionalismo puro, é difícil evitar o solipsismo — a incorporação ou absorção do mundo no “ego” ou “eu”, de forma que o mundo se torna apenas parte da consciência pessoal. Sem a mente (divina) universal de que todas as pessoas e todos os objetos participam, não é possível ao indivíduo reflexivo escapar da própria mente. Essa, ensinava o dr. Clark, é a razão da adoção de alguma forma de argumento ontológico sobre a existência de Deus por parte dos racionalistas.⁶

No século XIX, a tentativa do filósofo alemão Gottfried Wilhelm Friedrich Hegel (1770–1831) de resolver esse problema deu ao racionalismo a Mente Absoluta, mas a Mente da qual uma pessoa não poderia deduzir racionalmente indivíduos. Com Hegel tem-se o desaparecimento do “eu” no Espírito Absoluto ou Mundial. Esse panteísmo também é um fracasso.⁷

────────────────
³ Religion, Reason and Revelation, p. 43, 50.
⁴ “Penso, logo existo”. [N. do T.]
⁵ “Deus ou Natureza”. Spinoza cria que Deus e a Natureza eram idênticos. [N. do T.]
⁶ Religion, Reason and Revelation, p. 52.
⁷ V. De Tales a Dewey, caps. 2 e 7; Three Types of Religious Philosophy, cap. 2; Religion, Reason and Revelation, p. 50–4, 65–7.

— W. Gary Crampton. O Escrituralismo de Gordon Clark. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2012, p. 21–24.

Sign up to discover human stories that deepen your understanding of the world.

Free

Distraction-free reading. No ads.

Organize your knowledge with lists and highlights.

Tell your story. Find your audience.

Membership

Read member-only stories

Support writers you read most

Earn money for your writing

Listen to audio narrations

Read offline with the Medium app

Gordon H. Clark
Gordon H. Clark

Written by Gordon H. Clark

Gordon Haddon Clark (1902–1985) foi um teólogo, filósofo e apologista pressuposicional. “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.” (João 17:17)

Responses (2)

Write a response

Clark ainda aponta que a diferença entre o Racionalismo e o Dogmatismo não está em seu uso detalhado da lógica, pelo qual eles deduzem conclusões a partir de suas premissas. O Dogmatismo claramente toma suas premissas da Escritura e deduz as…