Resposta ao Metafórico Dr. Macky
Gordon H. Clark*

Sem dúvida, todo autor sente alguma alegria quando suas publicações recebem resenhas de livros e, mais ainda, quando provocam artigos críticos. Alguns autores podem ecoar o político que disse: “Não me importo com o que escrevem sobre mim, desde que mencionem meu nome”. Gordon R. Lewis, em Testing Christianity’s Truth Claims, descreve quase perfeitamente minha posição, embora sua crítica negativa diga respeito a algo não mencionado em seu resumo. Ronald Nash cometeu apenas um erro, mas infelizmente o usou como parte essencial de sua refutação. Outro crítico, após citar certa página de um de meus livros, atribuiu-me uma posição que eu havia negado explicitamente na própria página em que ele citou. Peter W. Macky não é tão estúpido quanto o último, nem tão perfeito quanto o primeiro.
Se as referências repetidas e reprovadoras de Macky à geometria fossem usadas apenas para ganhar o apoio de alunos que não gostam do assunto, isso não me incomodaria muito. Mas sua própria antipatia pelo assunto é tão forte que ele tropeça na falsidade. Por exemplo: “Clark, ao adotar a geometria, promove a coerência lógica de um sistema como o único padrão” (JETS 24/3 [1981] 240). Além disso, “a teoria de Clark segue coerentemente de sua suposição inicial [itálico meu] de que a geometria é o padrão pelo qual todo pensamento deve ser medido” (p. 243). Ele também diz: “Clark essencialmente exclui todo pensamento humano, exceto a geometria, do reino da verdade” (p. 248). Essas declarações são simplesmente falsas.
Em primeiro lugar, eu uso a geometria apenas como um exemplo de pensamento lógico. Existem muitos outros exemplos, mas a geometria é um dos melhores e deve ser bem conhecido. Se alguém se opõe aos procedimentos da geometria — a dedução de teoremas a partir de axiomas — ele está, na realidade, se opondo ao pensamento lógico como tal e está justificando a argumentação falaciosa. Mas isso, embora devastador para quem o faz, não é o que torna as afirmações repreensíveis.
Ora, se um crítico perder algum ponto obscuro em duas dúzias de livros, ou se ele falhar em entender alguma ideia secundária, isso não importa muito. Mas me parece inexplicável que alguém com um QI acima de 80 possa deixar de notar que meus axiomas são os da Bíblia e não os de Euclides. A The Trinity Foundation coletou uma dúzia ou mais de meus tratados sobre inerrância e agora está em processo de publicá-los em forma de livro. Além disso, alguém pode ter lido meu Three Types of Religious Philosophy sem perceber que eu não “excluo todo pensamento humano, exceto a geometria, do reino da verdade”? Considere também The Philosophy of Gordon H. Clark [A Filosofia de Gordon H. Clark] (eu não escolhi o título), onde na página 59 eu digo: “A revelação deve ser aceita como nosso axioma”. Ou na página 62: “A resposta mais séria à acusação de que o axioma da revelação é um raciocínio circular total é… Obviamente, um primeiro princípio ou conjunto de axiomas cobre tudo o que se segue… O primeiro princípio nos dará todas os ensinos da Escritura”. E ainda: “Esta exposição da lógica embutida na Escritura explica por que a Escritura, em vez da lei da contradição, é selecionada como o axioma” (p. 71). Mas a evidência da falsidade das declarações de Macky não são tanto sentenças isoladas — embora sejam conclusivas por si mesmas — quanto a totalidade de todas as minhas publicações.
A discussão da linguagem metafórica é importante, mas derivada. Sobre este assunto, Macky usa mais afirmações do que conclusões fundamentadas. Ele parece pensar — parece porque parece que ele é inconsistente — que a Bíblia é inteiramente metafórica e que a linguagem literal foi imposta a ela por teólogos posteriores. Por exemplo, ao relatar meus pontos de vista, ele diz: “A metáfora do cordeiro não é o que Deus estava comunicando. Em vez disso, era… um substituto para o significado real, que Clark acredita poder afirmar literal e precisamente. Portanto, uma certa tradição teológica é a verdade… enquanto as metáforas da Bíblia são apenas indicadores da verdade” (pp. 241, 242). Isso me dá a impressão de que as declarações literais da verdade bíblica vieram apenas em uma tradição teológica posterior. Pelo contrário, a metáfora do cordeiro é explicada literalmente por Paulo em Romanos e em outros lugares. Também se baseia nas instruções literais da Lei Levítica. E não poderia ser corretamente entendida sem elas.
Cristo é como um cordeiro — em alguns aspectos, é claro. Ambos têm cabeça, duas orelhas e dois olhos. Cristo permaneceu mudo, como um cordeiro mudo quando tosquiado. Sempre há dezenas de semelhanças em qualquer metáfora, símile ou analogia. A figura de linguagem por si só não indica qual semelhança se pretende. Sem Romanos e Levítico, não teríamos base para entender o que João Batista quis dizer. E nossa base não é uma tradição teológica posterior, mas a própria Bíblia.
Quanto às observações adicionais de Macky sobre a metáfora, parece-me que ele se baseia em afirmações simples sem dar razões para aceitá-las. Possivelmente as razões são demasiada geométricas. De qualquer forma, eu simplesmente não acredito que “o discurso poético, no entanto, é a melhor maneira de compartilhar a experiência humana”. A poesia, frequentemente o que algumas pessoas chamam de a melhor poesia, costuma ser vaga e ininteligível. Ao contrário, a inteligibilidade não necessita de poesia.
Os versos alexandrinos “Quand on ne peut changer le fond d’un caractère / Il faudrait beaucoup mieux, Nerisse, de se taire” são bons conselhos inteligíveis e têm ritmo e rima. Mas a grandeza de Le Cid de Corneille não depende de sua forma poética. O Tartufo de Molière é uma evidência contundente contra a dependência de Macky da poesia para “compartilhar” a experiência humana. Quanto a Hamlet de Shakespeare, duvido que mais de uma pessoa em mil que o veja perceba que é poesia, a menos que seja informado de antemão. De outro ângulo, o rondeau de Charles d’Orléans, “Le temps a laissé son manteau”, que compete pela honra de ser o mais belo poema já escrito, é completamente inteligível — e totalmente trivial. Keats é insuportavelmente chato, e as duas últimas linhas de sua “Ode Grega” são totalmente idiotas. Quão afortunados foram Descartes e Kant por terem vivido antes de terem de compartilhar essa monstruosidade!
Além disso, eu não acredito que a experiência humana possa ser “compartilhada”, poeticamente ou de outra forma. Duas pessoas podem entender a mesma proposição, mas os acompanhamentos subjetivos — a proposição pode fazer uma pessoa feliz e outra triste — não podem ser comuns. Ninguém pode sentir minha dor de dente e, felizmente, não posso sentir a sua.
Tampouco acredito que “é da própria natureza do pensamento e da linguagem representar o que é imaterial em termos imagináveis” (p. 244). De fato, eu acredito que a afirmação é falsa. Não afirmo apenas que é falsa — tenho razões para dizer isso: (1) Eu mesmo nunca o faço e, no entanto, penso — pelo menos penso que penso. (2) Eu desafio qualquer um a tentar representar a cônica geral ou a raiz quadrada de menos um por uma figura. Não digo que isso não possa ser feito. Mas não será uma imagem da realidade, nem álgebra, geometria ou cálculo podem ser desenvolvidos a partir de tais imagens. (3) Há muito tempo, Francis Galton apresentou a evidência de que muitas pessoas bem-educadas nunca tiveram tais imagens, e disso concluímos que a representação pictórica não pode ser “a própria natureza do pensamento”. (4) Brand Blanshard (The Nature of Thought, pp. 257–281) descreve as imagens que as pessoas têm e, ao fazer isso, destrói a teoria. Mas Macky nem mesmo tenta refutar esses argumentos, nem apresenta suas próprias razões. Ele simplesmente afirma que a Bíblia é um “gosto da realidade de Deus”. Deus tem gosto de chocolate ou de sal? A degustação é uma metáfora, mas uma metáfora de quê ? Exceto na missa católica romana e na consubstanciação de Lutero, ninguém mastiga Deus com os dentes.
É claro que a Bíblia usa linguagem figurada, mas Macky falha em apontar uma razão pela qual Jesus fez isso. A razão não era que é mais clara e informativa. De fato, o povo e os discípulos também ficavam constantemente perplexos e confusos com isso. Jesus o usou para esse propósito. Ele queria obscurecer seu significado, e as parábolas são meios eficazes de disfarçar os pensamentos de alguém.
Outra afirmação — na qual não acredito nem um pouco, e para a qual Macky não dá nenhuma razão — é: “Conhecemos outra pessoa íntima e adequadamente por meio de metáforas” (p. 250). Eu simplesmente não vejo como qualquer pessoa inteligente pode acreditar nisso. Para a minha mente, isso é totalmente ridículo.
Isso leva a um ponto final. Macky pelo menos parece sustentar que o termo “justiça”, conforme usado na doutrina da expiação, também é metafórico (p. 249), e pelo menos chega perto de concluir que todas as palavras são metafóricas. Ele até me critica por usar inconsistentemente a frase “pensamento claro”. Talvez eu devesse ter usado a expressão “pensamento inteligível” ou “pensamento correto”. As palavras “inteligível”, “correto” e “pensamento” são metafóricas? De fato, vários filósofos da linguagem no passado recente sustentaram que todas as palavras são metafóricas. Essa visão é suicida porque se todas as palavras fossem metáforas, não poderia haver metáforas. O termo “metafórico” só tem significado em relação ao termo “literal”. Nenhum dos dois é inteligível sem o outro — caso contrário, a disputa não poderia começar. Portanto, se todas as palavras de Macky são metafóricas, ninguém pode ter a menor ideia do que ele está falando porque a palavra “metafórica” é metafórica.
Além deste ponto final, e como uma espécie de apêndice — que não deixa de ser um argumento e não uma afirmação sem fundamento — tomo a liberdade de observar que quem menospreza a geometria deve ter em mente a mecânica automotiva, os estupendos avanços da medicina moderna, bombas atômicas e viagens à lua em igualmente baixa estima. A matemática também não é o meu forte, mas é muito mais bonita que a poesia. É superada apenas pela teologia sistemática.¹
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* Gordon Clark é professor emérito de filosofia na Butler University, em Indianápolis.
¹ Nota do Tradutor: Peter W. Macky tentou rebater Clark mais uma vez aqui: https://www.etsjets.org/files/JETS-PDFs/25/25-2/25-2-pp205-211_JETS.pdf
— Gordon H. Clark. Reply to the Metaphorical Dr. Macky. JETS 25/2 (Junho de 1982), pp. 201–203. Disponível em: https://www.etsjets.org/files/JETS-PDFs/25/25-2/25-2-pp201-203_JETS.pdf. Tradução: Luan Tavares (07/02/2023).