Veridicalismo e Empirismo
Palestra de Gordon H. Clark

Sua resposta [de Mark Hanna] para mim é que sou “patentemente” absurdo (página 98). Talvez você concorde com ele nesse ponto. Ora, eu não me importo que ele me chame de “patentemente” — ele não me menciona pelo nome, mas mesmo assim ele diz isso. Seguindo essa acusação de absurdo, ele afirma que as leis da lógica não são derivadas da Bíblia. Seu argumento requer a afirmação de que as leis não podem ser assim derivadas. Minha resposta é que toda sentença declarativa — de fato até perguntas e comandos — são exemplos de lógica. Não apenas isso, mas meu brilhante colega Professor J. C. Keister deduziu aritmética detalhada da Bíblia. E nós — Keister e eu — estamos confiantes de que ele também conseguirá deduzir o cálculo em detalhes. Ora, um dos meus adversários que publicou algo há pouco, não me lembro há quanto tempo, tentou me refutar dizendo: “Ora, é claro que você não pode extrair cálculo da Bíblia”. Mas você pode, e Keister fará isso. Nós dois sabemos a razão pela qual dizemos que isso pode ser feito; Keister ainda não descobriu todos os detalhes, mas ele pode fazer isso com bastante facilidade. Ele elaborou os detalhes em aritmética em grande detalhe. Você ficaria surpreso com a quantidade de aritmética teórica que encontra nas Escrituras, mas a maioria das pessoas não percebe o que está lendo.
Eu havia chegado a um ponto em que estava dizendo que não apenas a aritmética, mas também o cálculo poderia ser validamente deduzido das afirmações da Escritura. À medida que avançamos, a base sensorial da filosofia de Hanna torna-se cada vez mais aparente. Podemos admitir que o ponto de partida ontológico — porém, ponto de partida do que não está esclarecido — o ponto de partida ontológico é o Deus Triúno. Você encontrará isso na página 101: (1) Isso é irrelevante, pois toda a questão é como o conhecimento é possível. Como sabemos qual é o ponto de partida ontológico? Hanna responde: (2) “O ponto de partida epistemológico é a consciência pessoal focada em apreensões sensoriais introspectivas e intelectivas”. As únicas palavras significativas na frase são “consciência sensorial”, ou seja, sensações. Se ele tenta explicar a “apreensão intelectivas”, ele foi além, ou se retirou, supostamente dados de sentido objetivo no a priori e se torna um pressuposicionalista malgré lui [de talento extraordinário]. Se ele evita o a priori, deve-se perguntar como ele conhece a Deus; observe que ele disse: “o Deus Triúno”. Algum aborígine australiano ou filósofo inglês culto já chegou ao conhecimento da Trindade por meio da consciência pessoal da sensação? Isso é “manifestamente” absurdo. Essa frase ocorreu em outro contexto um tempo atrás, se você se lembra. Pelo menos eu acho isso muito confuso. Hanna tentou explicar da seguinte forma:
“O segundo passo é o reconhecimento e a distinção entre dados e suposições. O que é dado? Genericamente descrito, é tudo o que se apresenta à consciência. Ou seja, não é postulado ou baseado em postulação. E segundo, o faz diretamente, isto é, sem ser inferido ou derivado por qualquer raciocínio discursivo. E terceiro, pode ser corroborado veridicamente pelo exame reflexivo.”
Essa é a página 101. Agora, vou ler de novo para que você possa pensar um pouco mais…
“O que é dado? Genericamente descrito, é tudo o que se apresenta à consciência. Ou seja, não é postulado ou baseado em postulação. E segundo, o faz diretamente, isto é, sem ser inferido ou derivado por qualquer raciocínio discursivo. E terceiro, pode ser corroborado veridicamente pelo exame reflexivo.”
Deve-se agora levantar a questão: existe alguma coisa que satisfaça essas três condições? Deve-se também perguntar se as condições estão claras. O ponto um parece dizer que uma pessoa não pode estar ciente de qualquer coisa que postule. Nem de nada que ele deriva dos axiomas. Hanna define consciência como não postulação. Por que então usar o termo “consciência”? A segunda condição era que o objeto não postulado não pode ser derivado por raciocínio discursivo ou dedutivo. Mas esta não é uma segunda condição; apenas repete metade da primeira condição, ou seja, não baseada em postulação. Muito bem — então, não podemos estar cientes de axiomas e teoremas. A terceira condição foi veridicamente corroborada por um exame reflexivo. Agora, ou o termo refere-se veridicamente ao próprio veridicalismo de Hanna, e neste caso é uma petição de princípio, ou com a frase “exame reflexivo” refere-se a algum processo dedutivo excluído nas condições anteriores. De qualquer forma, ele não dá um exemplo de conhecimento que se encaixe nessas condições.
É preciso pressionar o ponto. Ele sabe que Davi foi rei de Israel, que ocotillos não são cactos e que E = mc²? Em caso afirmativo, como? Um exemplo particular, explicado em detalhes, teria sido mais aceitável.
Ao elaborar sua teoria positivamente, Hanna deseja razoavelmente compará-la com as opiniões de seu oponente. Mas aqui, suas declarações descritivas não são tão precisas quanto as anteriores. Suas declarações descritivas das opiniões de seu oponente não são tão precisas quanto no início do livro. Na página 104, ele afirma: “O pressuposicionismo erra em sua tendência de interpretar a justificação racional como a aplicação de critérios humanos à verdade divina”. Isso é claramente falso. A acusação pode ser verdadeira se acusada contra o existencialismo, o empirismo ou o arminianismo. Também parece se aplicar ao veridicalismo de Hanna. Mas não ao calvinismo. Pode haver várias variedades de pressuposicionalismo. Anteriormente, Hanna aparentemente colocou Barth e os existencialistas religiosos nesta categoria. Mas, essas pessoas rejeitam a aplicabilidade universal da lógica e não dão justificativa racional para seus paradoxos. Brunner sustentou que Deus e o meio da conceitualidade são mutuamente exclusivos. Sie schliessen einander aus, citação literal. Mas, outros pressuposicionalistas — eu não chamaria Brunner de pressuposicionalista — outros pressuposicionalistas pressupõem a inerrância da Escritura. Eles encontram as normas da lógica embutidas na Bíblia e, portanto, consideram Deus como um ser racional, e não irracional. Portanto, eles não usam critérios humanos para julgar a revelação divina. Cristo é a Lógica e a Sabedoria de Deus. Sua mente é revelada na Escritura. Fomos criados à imagem de Deus, ou seja, como seres racionais. Portanto, a declaração de Hanna é simplesmente falsa. Ou ele quer dizer que enquanto o homem não pode pensar que o número 4 é par e ímpar, Deus pode e pensa? A mera aritmética humana deve servir para nossos talões de cheque, mas para Deus e sua aritmética divina, 2 + 2 = 5. Para nós, Davi era rei de Israel, mas não da Uganda, enquanto para Deus — que não usa nossa lógica meramente humana — Davi era ambos. Pelo contrário, há apenas uma lógica — é divina, e essa é a lógica que devemos usar, e às vezes usamos.
Novamente, surge a questão dos exemplos particulares. Nesta mesma página 104, ele diz: “Visto que existem verdades extrabíblicas, e uma vez que a verdade é formalmente uma, o veridicalismo sustenta que é legítimo apelar para fatores corroborativos que estão disponíveis ao homem universalmente”. Mas, isso deve ser um pressuposto não empírico, a priori, pressuposicionalista para ele. Ele não mostrou em nenhum lugar que existem verdades extrabíblicas. Ele também não mostrou como seus dados independentes podem se encaixar em um sistema formalmente uno. Ele também não oferece nenhum argumento de que existem fatores corroborativos disponíveis para o homem universalmente — nem como ele poderia descobrir algo verdadeiro sobre todos os homens do passado e todos os homens do futuro. Tudo isso é pressuposicional e, portanto, ele não deve usar tais princípios.
Hanna também tem algumas outras pressuposições. Para resumir bem brevemente, as páginas 111 e 112 argumentam que a justificação não pode parar em uma primeira verdade, mas deve regredir ao infinito porque uma primeira verdade é pressuposicional e o pressuposicionalismo é ruim. Ao chamar esses pressupostos de outro nome, como “dados intelectualmente apreensíveis”, Hanna parece incluir os universais na base de sua teoria. Mas os candidatos mais óbvios para “dados” são os dados sensoriais. Dados significa informações. Na página 116 ele menciona “olhos, nervos ópticos, etc.”. O “etc.” está no livro dele, é a declaração dele, faz parte da citação. A página 122 menciona “cheirar uma rosa” e depois “condições fisiológicas e ambientais”, na página 124; “A consciência sensorial é a base ou ponto de partida do conhecimento”, da página 131. Observe que a última é uma afirmação não modificada do empirismo. Vou ler novamente: “A consciência sensorial é a base ou ponto de partida do conhecimento”. Essa é uma afirmação não modificada do empirismo.
Todo conhecimento é baseado na sensação. Como então ele pode afirmar ter encontrado uma filosofia— ter fundado, eu acho, ou talvez ter encontrado uma filosofia — a meio caminho entre o priorismo e o empirismo? Novamente ele diz: “Estou ciente dos objetos sensoriais; não conheço essas realidades por inferência, mas por meio dos sistemas neurológicos e das condições ambientais” (páginas 133-134). Como ele pode dizer quais efeitos seus sistemas neurológicos produziram em sua experiência sensorial? E onde ele conseguiu suas informações sobre as condições ambientais? Isso tudo não é uma petição de princípio?
Morando no cume de uma montanha e tendo cerca de 50 árvores em meu meio acre de gramado, vejo pela janela os resultados brilhantes de uma tempestade de gelo. Cada pequeno galho é brilhante com cores; vermelhos, azuis, amarelos, roxos cintilantes e alguns verdes. Ou seja, eu tenho essas sensações. Isso significa que os galhos são vermelhos, azuis e amarelos? Isso significa que o gelo é vermelho, verde e azul? Existe alguma coisa lá fora que é vermelha, azul ou roxa? Os empiristas nos dizem — embora obviamente eu não dê crédito a nenhuma afirmação empírica — os empiristas nos dizem que os cães não veem em cores. Então não é a cor, certamente a cor particular, o efeito do aparelho neurológico? Algumas pessoas dizem que o gelo e a árvore não têm cor, mas que o sol tem essas cores. Eles são transmitidos a nós por vibrações no éter. Como as vibrações em um éter não percebido podem ser coloridas, eu não sei. De qualquer forma, quase todos os cientistas dizem que o éter não existe . A luz consiste em partículas invisíveis. Algumas dessas partículas invisíveis são verdes e outras vermelhas? Posso realmente ver sensações vermelhas e verdes, mas há alguma coisa lá fora vermelha ou verde? Quanto ao que está em minha mente, ao olhar para uma cor, meu instrutor de arte e eu não concordamos sobre qual tubo de tinta devo espremer.
Minha conclusão é que o empirismo e o veridicalismo de Hanna são — ou é — totalmente impossível. E se não há uma terceira escolha entre ter pressuposições e não ter pressuposições, e se o conhecimento deve ser mostrado como possível, apenas o pressuposicionalismo oferece alguma esperança. E esse é o final. Agora, se você deseja fazer algumas perguntas, muito bem.
Deixe-me apenas repetir um exemplo particular que dei antes. Presumivelmente, você tem uma percepção de algo preto. Não tenho certeza se sim, porque acho que algum artista espremeria vermelho de seus tubos para pintar isso ou outros o fariam com outras cores; eles veem coisas maravilhosas que você conhece. Mas presumivelmente, ou vamos supor, que você tenha uma percepção do preto. Mas, as pessoas que mais seriamente tentaram investigar o que você vê, insistem que não há nada preto aqui, que não há nada que vá de um dedo ao outro, que 99 e 44 centésimos desse comprimento é espaço absolutamente vazio, não tem absolutamente nada nele, está claro que é bastante invisível, e pode haver algumas pequenas partículas invisíveis entre as duas extremidades. Assim, de acordo com a ciência,
As pessoas que insistem que todo conhecimento surge da sensação são melhor exemplificadas nos procedimentos científicos; os cientistas são as pessoas que examinam a sensação de forma mais explícita, deliberada e cuidadosa. Como eles fazem isso de maneira tão completa, podemos supor que seus relatos sobre o que veem provavelmente são mais precisos do que os relatos de pessoas mais descuidadas. Ora, eles afirmam que não há conexão, não há duas coisas conectadas entre meus dois dedos. Que o que está entre meus dedos é um espaço quase inteiramente vazio, absolutamente nada, e que o que está entre meus dois dedos, certas coisas muito separadas umas das outras, são invisíveis. Essa é a conclusão daqueles que mais prestaram atenção ao que se pensa como sensação. E, portanto, seguir-se-ia que, na base empírica e científica, o que você vê não é uma caneta. É quase nada, e o que é algo é totalmente invisível que você nunca viu.
Agora, nesta hora, desejo continuar o que chamo de palestra introdutória. Outro dia chegamos ao ponto inicial de minhas objeções ao empirismo, e quero enfatizar isso com detalhes consideráveis, porque o empirismo, mesmo que não seja chamado por esse nome, parece ser o tipo de ideia natural que todo mundo normalmente tem (eles pensam que aprendem pela experiência e de certa forma eles pensam que é uma questão de bom senso e então eles estão inclinados a assumir essa posição sem pensar). Então, eu quero gastar um pouco mais de tempo neste argumento e realmente deveria ser necessário, mas notei que algumas pessoas nesta classe fizeram algumas perguntas legais em defesa do empirismo. Vou ver se consigo rebatê-las.
Outro dia, me referi à obra de arte de Escher, que espero que vocês já tenham visto, e também me referi à rosa que não estava lá, e, semelhante à rosa que eu acho que mencionei, gostaria de falar sobre nosso curso de física na Universidade da Pensilvânia. Um dia, numa aula de uma hora, não era laboratório, mas o professor tinha uma mesa comprida na frente dele, quase do tamanho da largura da sala que, é claro, dava voltas. E havia bicos de Bunsen com uma mangueira que veio daqui de trás, que conecta com o petcock. E, neste dia, nós entramos e havia dois bicos de Bunsen — separados por 6 ou 8 pés, uma boa distância para uma mesa — que ocupavam quase a largura da sala. Aqueles dois bicos de Bunsen estavam queimando. Eles ficaram aqui na mesa, e a mangueira de borracha passou aqui, passou por baixo onde a gente tinha visto antes que houvesse petcocks. E o professor começou com algum material introdutório. Não sabíamos exatamente o que ele queria fazer, mas ele começou a explicar. E enquanto explicava, ele começou a ficar um pouco nervoso e pegou um tubo de borracha e o puxou para fora e olhou para ele. Tem a calha daqui para baixo, e o bico de Bunsen ainda estava queimando e não estava preso ao petcock. Eles continuaram cozinhando e ele não disse nada. Por fim, ele ficou um pouco mais nervoso e puxou o bico de Bunsen para fora e a chama ainda estava queimando, sem o bico ali. Bem, pudemos ver isso claramente. Sem gás, sem o bico de Bunsen — mas a chama acesa.
Pois quê? Vou dar-lhes outra ilustração.
Este é um experimento que você mesmo pode fazer se tiver uma peça do equipamento. Pegue um pedaço de papelão branco brilhante e corte-o melhor em um círculo, depois pinte metade do papelão branco com a tinta nanquim mais preta que puder encontrar. Apenas pinte metade dele somente com preto. E depois, na outra metade, pegue uma caneta e faça alguns rabiscos. Uns 3, 4, 5 ou 6 pequenos rabiscos. Não preencha toda a metade — apenas com alguns rabiscos. Então, se você tiver, digamos, algum tipo de furadeira (porque uma vitrola não gira rápido o suficiente — queremos algo que vá mais rápido que 78 e não menos que 33, não é?) — mas pegue algo que gire bem e rápido, e prenda-o a este círculo que você fez e faça-o girar o máximo possível. Deixe-me perguntar: que cores você verá?
[Estudante; inaudível]
Alguém mais quer dar um palpite melhor?
[Estudante; inaudível]
Cinza… bem, esse é um palpite melhor, mas é tão errado quanto. Pois não?
[Inaudível]
Sim, você verá vermelho, verde e azul e roxo e… então, qual é a cor do pedaço de papelão?
Deixe-me contar outra história. Vocês sabem que eu recomendo um curso de física. É um assunto muito interessante. Lá embaixo, em Lookout Mountain, não temos os invernos como tem aqui, o inverno quase nunca dura mais do que dois meses e geralmente não tanto. E, embora tenhamos algum tempo frio, não fica tão frio por tanto tempo. Dificilmente chega a zero. Tivemos dois invernos ruins seguidos há algum tempo, mas geralmente o clima mais frio é de cerca de 15°. E o acúmulo total de neve no inverno passado, durante todo o inverno, foi de cerca de ⅛ de polegada. Não cobriu nem as estradas, ficou um pouco na grama por algumas horas. Mas, no entanto, houve uma espécie de congelamento das árvores e esta manhã — a manhã de que estou falando — pude olhar para fora e ver as árvores — cerca de 50 árvores no gramado da frente e algumas atrás da casa também, e elas eram muito, muito bonitas. Havia gelo nos galhos e nos ramos e vi vermelhos, azuis brilhantes, verdes, amarelos e brancos deslumbrantes. Eu podia vê-los muito claramente, eles eram brilhantes. Bem, agora, vocês acham que os galhos são vermelhos, verdes, azuis e assim por diante? Acho que não.
[Pergunta inaudível]
Você diria que os galhos não são dessa cor, o gelo é. Mas eu achava que o gelo não tinha cor nenhuma, que era transparente. E, no entanto, vi vermelhos, azuis e verdes e assim por diante.
[Inaudível]
Sim, então existem comprimentos de onda que vêm através do éter universal que vemos. O problema com isso é que o éter desapareceu por volta de 1880 e não foi encontrado desde então e não há nada para as ondas ondularem. Uma das teorias atuais é que a luz vem em forma corpuscular e, portanto, você tem pequenos vermelhos e corpúsculos azuis e verdes descendo do céu. O problema é que nunca vi nenhum deles.
No entanto, esses fenômenos psicológicos inteligentes sobre os quais tenho falado — por exemplo, acontece de vez em quando. Geralmente quero tirar uma soneca à tarde porque quero trabalhar à noite e não posso trabalhar 3 seções do dia, mas muitas vezes, à tarde, a campainha do telefone me acorda; corro para o telefone e a campainha não tocou, mas ouvi a campainha tocar. Isso já aconteceu comigo muitas vezes. Ouço uma campainha que nunca tocou — ora, esses fenômenos psicológicos não são a objeção mais importante à dependência da sensação. Além desses casos excepcionais, vocês conhecem a história do fazendeiro no Texas? Ele estava dirigindo em sua picape, atravessando seu rancho de cem milhas quadradas, e viu um corpo de água, uma piscina, um pequeno lago — um pequeno lago na sua frente. Ele disse: “Oh, isso é uma miragem! Existem todas essas miragens no Texas! Isso é uma miragem e eu vou dirigir até ela”. Então ele ficou preso na lama.
Além desses casos excepcionais, a sensação está sujeita a deficiências constantes. Primeiro, a sensação depende dos órgãos dos sentidos e dos vários órgãos dos seres vivos — isto é, dos animais — claro que as plantas não têm o sentido da visão — mas os órgãos dos animais são diferentes. E eles funcionam de maneira diferente. Por exemplo, os cães ouvem e cheiram o que não podemos. Ora, podemos ver em cores que eles não podem. Agora como você vai explicar isso? Temos alucinações de cores e os olhos do cães estão realmente corretos? Ou o cão tem alucinações auditivas e nós ouvimos corretamente? Qual? Nenhum dos dois, tudo bem.
Outro exemplo. Nossos órgãos mudam, seja por causa da idade ou por causa da doença. Essas mudanças geralmente ocorrem sem que saibamos. Assim, muitas vezes, ou quase sempre, somos enganados. Por exemplo — vou dar um exemplo pessoal. O que vejo com o olho direito não vejo com o esquerdo e vice-versa. Tenho duas sensações bem diferentes, olhando na mesma direção, se fecho um olho ou se fecho o outro. Agora, qual olho está correto? Além disso, embora eu saiba disso, e esses óculos também não mudem, você também pode ter esses problemas, como eu tive por muito tempo sem saber. E pode haver outras alterações em sua retina ou em seu nervo óptico, que vocês não sabem, mas que fazem com que vocês vejam diferente das outras pessoas. Agora, os olhos de quem estão corretos e os olhos de quem não estão? Ou qual olho? E assim por diante.
Em seguida, darei o princípio geral mais tarde, mas darei um exemplo primeiro. Alguns de vocês conheciam os desenhos de Escher. Mas acho que todos vocês já viram algumas pinturas. Ontem, colocaram várias pinturas na biblioteca, no corredor da biblioteca, talvez vocês os tenha visto. A maioria delas são uma espécie de paisagens marinhas. Agora, se você pegar uma tela e pintar metade dela com um vermelho brilhante e a metade inferior com um azul brilhante — ou quaisquer outras duas cores contrastantes, não precisa ser vermelho e azul, mas elas servirão — se você misturar branco e preto, provavelmente verá cinza. Mas agora, pegue um pouco dessa tinta cinza em seu pincel e puxe-a para baixo em ambas as partes da tela. Que cor você verá nesse traço? Cinza? Não, nada disso será cinza. Parte dela pode ser rosa, parte verde, mas de qualquer forma não será cinza. E, no entanto, as duas cores que você vê foram todas feitas pela mesma mistura de tinta em seu pincel. E isso é verdade o tempo todo. Tudo é visto contra um fundo e, portanto, a cor muda com o fundo. Então, o que você diz que é vermelho não é vermelho. Só é vermelho enquanto estiver contra um determinado fundo, talvez contra um fundo azul, ou algo assim. E, portanto, você não tem ideia do que realmente é a cor de uma coisa. Você tem que concluir que realmente não é cor. De qualquer forma, sempre vemos algo contra um fundo, e o objeto que você vê muda de cor com um fundo diferente. O que indica que você nunca pode ver sua própria cor porque ela nunca aparece sozinha. Sempre aparece contra um fundo.
Bem, tais dificuldades ocorrem nos níveis inferiores de sensação. Dificuldades adicionais ocorrem à medida que avançamos cada vez mais. A questão é: como podemos transformar sensações em percepções com confiança? Ora, até agora, falamos apenas sobre sensações, mas como, a partir das sensações, você pode obter percepções? E devo dizer, tão educadamente quanto possível, que meus oponentes se recusam a responder à pergunta. Já perguntei a várias pessoas e não respondem, mas continuo a perguntar. Como você pode desenvolver percepções a partir das sensações?
— Gordon H. Clark, palestra intitulada Veridicalism and Empiricism. The Gordon-Conwell Lectures on Apologetics, 1981.
Ouça em: https://www.trinitylectures.org/MP3/Veridicalism_&_Empiricism.mp3
Tradução: Luan Tavares (18/03/2023).